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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

PORQUE NÃO SER UM PECUARISTA AMBIENTALISTA?

Há quem pense, notadamente nos limites das fronteiras agrícolas, que ser ambientalista é coisa de gente que não tem o que fazer e que não vive a realidade dessas regiões. Essa percepção é devida em grande parte ao fato de que à frente das ONG’s ambientalistas, ao invés de um brasileiro, quase sempre há um estrangeiro. E ao fato da mídia, de modo geral, dedicar mais espaços a essas ONG’s do que aos produtores rurais brasileiros, tudo sob o olhar normalmente indiferente ou desfocado dos governantes.
Pois bem. Independentemente de se gostar ou não dos ambientalistas mais ideológicos, a verdade é que parte do Estado de Mato Grosso teve sua cobertura vegetal extirpada para implantação de pastagens e lavouras, o que expõe nosso produtor rural à sanha dos ambientalistas e aos rigores da legislação penal/administrativa ambiental. Ficar parado a espera das conseqüências não nos parece uma boa tática. Só criticar a legislação, os fiscais e os ambientalistas se nos afiguram também medidas inócuas. E o que fazer, então?
Sugiro nestes tempos de crise aproveitar a degradação das pastagens e a pressão dos ambientalistas e da fiscalização ambiental para que todo produtor rural se torne, também, um ambientalistas equilibrado e consciente. Isso se faz se organizando em prol da necessidade de preservar ou recuperar as reservas permanentes, notadamente aquelas de proteção aos mananciais; enriquecendo as terras com árvores frutíferas, ornamentais e industriais, conforme permite a lei para complementação ou manutenção da reserva legal nos pequenos imóveis rurais; mediante restabelecimento da reserva legal com vegetação nativa enriquecida com mudas de árvores de grande valor econômico, eis que a reserva legal pode ser, futura e oportunamente, objeto de manejo sustentado.
É mais inteligente e mais rentável do que, por exemplo, ocupar um alqueire de pasto para vender 4 bois gordos de 16 arrobas cada (quando o pasto comporta tal volume de gado) depois de dar-lhes pasto durante três anos e com o dinheiro comprar 4 bezerros de reposição; pagar o valor equivalente a outros 4 bezerros com pasto, mais sal, vacinas, vermífugos e despesas administrativas e com pessoal e pensar que se está ganhando alguma coisa. Vejamos a conta, grosso modo: (4 bois gordos = 16@ x 4 = 64 arrobas x R$ 86,00 = R$ 5.504,00). Dessa receita tirar: (4 bezerros: 650,00 x 4 = R$ 2.600,00) e tirar, ainda o custeio por 3 anos: (650,00 x 4 = R$ 2.600,00), o que dá uma sobra de R$ 304,00 que, divididos por 3 anos é igual a uma renda anual de R$ 101,33 por alqueire ou uma renda mensal R$ 12,00 por alqueire de terras.
No exemplo acima, levando-se em conta um alqueire de terras a R$ 6.000,00 teremos, para um capital de R$ 11.200,00 R$ 6.000,00 da terra + 2.600,00 dos bezerros + 2.600,00 do custeio), uma renda irrisória ao ano! Uma miséria.
Ora, o valor de R$ 11.200,00, se colocado em caderneta de poupança renderia 0,50% ao mês, ou seja, R$ 56,00 ao mês ou R$ 672,00 ao ano e R$ 2.016,00 em três anos. Conclusão: parece que engordando boi se está rasgando dinheiro, pois a pecuária se afigura estar sendo, nestas condições, financiada por rendas de outras fontes (comércio, indústria, serviços, extração de recursos naturais, etc.).
Diante desse quadro não nos parece má idéia reservar parte das terras para se produzir madeiras e outros produtos florestais, sem se abandonar de vez a simpática tradição pecuária, pois assim estaríamos conciliando rentabilidade com preservação ambiental. E com menos boi no mercado certamente o pecuarista seria mais bem remunerados pela sua produção.
E para quem tem passivo ambiental, a iniciativa é mais atraente, pois é melhor aplicar recursos financeiros investindo nessas alternativas do que ficar exposto aos prejuízos decorrentes de eventual imposição de multa por infração ambiental.
E daí, porque você não se transforma, também, num pecuarista ambientalista?
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Gilmar da Cruz e Sousa, advogado em Juina.

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